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É preciso visibilizar a mulher, além da mãe.

Há 5 anos, eu amamento. Há 5 anos, sou mãe. E há 1 ano, mãe de dois.

Pra ser exata, há 5 anos, 3 semanas e 3 dias que minhas noites nunca mais foram só minhas e meus dias nunca foram tão intensamente preenchidos. E que eu nunca estive tão vulnerável e… tão potente.

mãe amamentando bebê

Foto: Brenna Codônio

5 anos amamentando, nutrindo, cuidando, dando colo, trocando fraldas, cortando unhas, fazendo comidinhas, acolhendo choro, reaprendendo a chorar e a sorrir da simplicidade do dia-a-dia, aprendendo a me acolher, a me nutrir, a me dar colo para estar mais inteira, a me cuidar para melhor cuidar deles. 5 anos aprendendo a ser mãe sem me perder neste papel que pode ser um portal ou um buraco negro, a escolher.

Duas semanas atrás, Amarilis fez 1 aninho. Era dia de celebrar a vida e eu estava num misto de alegria e nostalgia e tristeza e dor e euforia e ansiedade e confusão. Chorei muito no dia anterior. Gael havia completado 5 anos uma semana antes e eu me sentia ainda num inferninho astral. Lembranças dos partos, dos primeiros dias de puerpério, das dores nas mamas, do cheiro de vernix, das mãozinhas no peito, da primeira febre, dos primeiros dentes, da exaustão de noites em claro, da alegria das primeiras palavras, memórias difusas diluídas no leite. Lembranças de quem eu fui… quem eu era? Quem eu sou agora?

Além da mãe do Gael, além da mãe da Amarilis, existe a mulher, este ser humano que também anseia, tem sonhos, desejos, planos e projetos. Além ou por trás ou por dentro ou à frente ou submersa: ali está a mulher. Olhe bem e você vai ver. Talvez ela esteja meio escondida por trás das olheiras e do cabelo despenteado. Talvez ela esteja ainda buscando seu lugar ao sol ao lado destas duas crianças que carrega para sempre no peito e leva pelas mãos, pelos dias, pelas noites, enquanto for necessário seu apoio, seu sustento, seu colo, seu corpo, sua vida. Talvez ela ainda reserve menos tempo para si do que para eles. Mas ela existe e persiste. Pois sem ela, eles nem existiriam. Ela sabe e, hoje, celebra sua própria existência. Ela, eu, essa mulher.

Recuso-me a invisibilizá-la.

Meus filhos fizeram aniversário e eu senti um aperto no peito. Por tantos motivos em meio a esta quarentena, mas também pela ausência dos abraços de outras mulheres mães celebrando comigo. Pessoas que entenderiam que quando um filho faz aniversário, é preciso celebrar igualmente a mãe.

Quem aqui felicita a mãe no aniversário da criança? Quem aqui lembra de dar um abraço na mãe quando a criança faz um ano, dois, três, cinco, sete anos? Quem lembra o quanto aquela mulher se doou para que aquele serzinho esteja ali, crescendo forte e saudável?

É preciso celebrar a mãe. Então, hoje, resolvi celebrar a mãe que estou me tornando, a mulher que sou e tudo o que ainda posso criar e ser e fazer.
E celebro também todas as mães cujos filhos fizeram aniversário nesta quarentena: eu vejo vocês! E adoraria dar um abraço em cada uma, olhar nos olhos e dizer: eu agradeço por você criar e nutrir a vida!

Há 5 anos sou mãe e busco me redescobrir mulher, admitindo-me humana e vulnerável, e descobrindo-me igualmente forte e potente.

É preciso visibilizar a mulher, além da mãe.

Nossa potência está em saber que podemos ser ambas, todas, muitas.

Maristela Lima

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