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Toda mãe precisa de abraços

Sempre gostei de abraçar. Porque a gente nunca apenas dá um abraço: abraço só acontece quando é recíproco, damos e recebemos ao mesmo tempo. O abraço me dá margem quando tudo parece confuso, me dá segurança quando tudo inspira medo, me dá paz quando tudo em volta é revolta. Abraço me remete à minha potência quando o caos do cotidiano materno quer tomar conta da minha sanidade. Abraço é vida.

E, ah, como é necessário! Sobretudo nessa vida de mãe de dois, puérpera e em transição de carreira. Depois que virei mãe, fiquei mais ansiosa. Às vezes, tenho picos de ansiedade – quando me dou conta que dois braços, duas pernas, uma cabeça e um coração parecem insuficientes para responder a todas as demandas de dois coraçõezinhos sedentos de atenção e amor. Criança gosta é de atenção plena e exclusiva. E como dar atenção exclusiva quando se tem dois ou mais? Só com apoio, rede, amigas, parcerias firmeza. Aí, reveza.

Nas últimas três semanas, tive picos de ansiedade constante. Coincidentemente, nas últimas três semanas não fui fazer caminhadas no parque, não encontrei as amigas, e marido trabalhou nos fins de semanas (nos três). Receita infalível pra pirar em pleno puerpério com duas crianças pequenas. Sobretudo quando você, além disso, quer se dedicar minimamente aos seus outros projetos, além da maternidade. Logo eu, né, que falo e escrevo tanto sobre autocuidado e rede de apoio, caí na armadilha da solidão materna e de querer dar conta de tudo. Orai e vigiai, porque os hábitos enraigados e as crenças apoiadas pela sociedade patriarcal estão sempre à espreita.

Mas me toquei e comecei a dar um basta. Voltei a caminhar, fiz um encontro de confraternização com algumas amigas mães com bebês da idade da Amarilis, organizei programas em família, passeios no parque, etc. Há três dias, me sinto infinitamente melhor.

No encontro com as amigas mães, relatos, confissões, partilhas, comidinhas, bebês risonhos, bebês chorando, mães chorando e rindo ao mesmo tempo. A vida acontecendo. E abraços na chegada, abraços no meio, abraços na despedida. Abraços. Cheguei em casa renovada. Ah, como não amar as mulheres? Já sentia a ansiedade indo embora diante de tanta luz e calor.

Aí, ontem, depois de um passeio no parque, em família, para poupar o trabalho e aproveitar o tempo gostoso juntos, resolvemos parar para almoçar num restaurantezinho vegetariano no caminho de volta pra casa. Eu aparentemente tranquila, as crias tranquilas, companheiro tranquilo. Até Gael começar: ah, não quero isso, não quero aquilo, que ruim, tira isso do meu prato (isso porque nós havíamos preparado juntos, ele e eu, o seu prato). E deu um grito, típico daquelas cenas da criança esperneando no chão de shopping. Saí de perto. Conheço meus limites. Sair de perto também é cuidar da relação – sobretudo quando se tem alguém que possa ficar por perto. Chamei o pai, que estava se servindo. Respirei. Tomei água. E encontrei uma amiga, mãe de três. Ela: “Acabei de começar a ler seu livro!” Eu: “então me dá um abraço que eu tô precisando!” Nos abraçamos e ela me diz no ouvido: “eu te entendo”.

Mães não precisam de alguém dizendo “é fase”, “vai passar”. Isso é pura falta de empatia disfarçada de camaradagem. Sabemos que vai passar, não precisa dizer! O que uma mãe precisa é de alguém que segure a sua mão e lhe dê um abraço enquanto “a fase” não passa!

Volto pra mesa mais em paz. Proponho ao Gael de recomeçar. Voltamos ao buffet, ele refaz o prato dele (arroz com milho e castanha. Só. Tá ótimo. Eu escolho minhas batalhas). Sentamos, comemos, meu companheiro respira, nosso olhar se cruza dizendo “conseguimos”. Conseguimos contornar mais uma situação delicada (ele sabe o quão tênue está a linha entre a mãe maravilhosa que posso ser e o caos interno provocado pelo cansaço do puerpério). Conseguimos mais uma vez não pirar. É preciso celebrar as pequenas vitórias.

Na saída do restaurante, encontro mais uma amiga, que não via há tempos: “Maris! A mãe do ano!”, ela me diz, querendo conhecer Amarilis. Ao que respondo, “a mãe mais cansada do ano”, e dou-lhe um abraço, sem pedir, porque né, precisamos.

Se tem uma coisa que detesto é abraço frouxo, assim meio de lado, meio querendo que acabe logo. Abraço tem que ser assim: coração no coração, braços abertos, enlaça a pessoa à sua frente, aperta até sentir os corações coladinhos, quentinhos, pulsando junto. Isso cura. O abraço da Cris e da Lu foram cura para a ansiedade que começava a querer despontar.

casal se abraçando

Abraços me salvam.

Chegamos no carro, crianças devidamente colocadas nas cadeirinhas, fechamos as portas e antes de entrar, criando uma pausa no tumulto familiar, nos olhamos de novo, nos abraçamos, nos resgatamos. É preciso uma pausa para recuperar a visão e enxergar quem somos, além de mãe e pai.

Abraço salva. Já me salvou várias vezes. Quem já sofreu de ansiedade – e imagino que todas as mães, em algum momento, caem neste buraco negro – sabe como é bom poder ter este contorno nas emoções em ebulição.

Tudo isso pra dizer: abrace mais. Abrace as amigas, as crianças, o companheiro ou companheira. Abrace sua mãe, abrace a moça que se oferece para ajudá-la quando vê você cheia de sacolas e crianças, abrace a terapeuta, a pediatra, a professora. Abrace mais.

Sabe aquela história de que, pra ser feliz, é preciso dar 12 abraços por dia? Pois é. Abraço é ocitocina. Quando seu filho estiver com aquele comportamento mais desafiador, abrace forte! Por ele, por você.

E quando não tiver ninguém por perto pra abraçar, abrace a si mesma, acaricie seus ombros, suas costas, seu pescoço, sua nuca. Permita-se dar o contorno necessário ao seu equilíbrio.

 

Texto: Maristela Lima @cultivandocuidado

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