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A verdade liberta

Vulnerabilizar-se. “Esse verbo não existe. Melhor trocar por algo como tornar-se vulnerável ou mostrar suas fraquezas”, disse minha editora ao me enviar a revisão do livro. Não aceitei a troca. Porque não tem a ver com  fraqueza ou com mostrar-se frágil. Tem a ver com mostrar-se humana, expor sentimentos, apontar para o que você precisa e aprender a pedir. Vulnerabilizar-se é a expressão da verdade viva em você.

Vulnerabilizar-me tem sido uma das coisas mais potentes e libertadoras da minha vida. Falar a verdade sobre mim mesma é o que me re-humaniza aos olhos de quem me ouve. Porque quando se exerce determinados papéis, é fundamental saber que são só isso: papéis. Eu não sou apenas a “facilitadora de CNV”, a “escritora”, a “educadora”, a “terapeuta”. Sou apenas humana. E nasci mulher e virei mãe. E descobri, neste pequeno caminho da minha existência, a importância de ter espaços onde as verdades possam ser ditas, sem julgamentos, sem críticas, sem  comparações. Por isso, crio esses espaços para outra mulheres, outras mães como eu. E sei da raridade e da potência destes espaços.

Quando trabalho com mães, eu sei que sou uma delas. Sei que tenho os mesmos desafios, em formatos diferentes, mas no fundo, os mesmos. Sei que tenho medos, angústias, traumas, criança ferida, surtos ocasionais e vontade de sair correndo às vezes. Sei que não sou a mãe do comercial de margarina. E que estou a milhas de distância da perfeição instagrâmica.

mãos com flores vulnerabilidade

Vulnerabilizar-se não é mostrar-se frágil: é mostrar-se humana.

Hoje, convidei uma amiga para sair comigo, Amarilis no sling, o coração apertado. Fomos a uma confeitaria e, em meio aos três doces que pedi, minha amargura saiu e as lágrimas se misturavam ao chá. Isso depois de 5 minutos de conversa. Não sei bem o que minha amiga esperava, mas agora sei que fui eu que me convidei para sair com ela. Porque queria criar um destes espaços para mim. E fui ouvida, vista e acolhida. Ao final da conversa, ela me diz: que bom desconstruir a imagem que eu tinha de você. E eu pensei: que bom ser vista como um ser humano.

Vulnerabilizar-se exige coragem. E isso, amiga, ah, isso eu tenho. Olhar para as próprias feridas, expô-las e curá-las requer um grau de persistência que eu venho desenvolvendo com a maternidade. Não aceitei essa missão à toa – ser mãe e trabalhar com mães. Cada mulher que se vulnerabiliza diante de mim, é uma oportunidade de nos curarmos juntas, de curarmos nossas relações, de nos fortalecermos. Porque as verdades, são no fundo, as mesmas, só que em roupagens diferentes. Todas queremos ser vistas, ouvidas, acolhidas, reconhecidas, amadas, respeitadas. Todas queremos pertencer e contribuir à vida.

E uma das melhores maneiras que eu conheço de cuidar disso tudo é falar a verdade sobre si mesma, a quem conquistou o direito de ouvi-la.

Agir com o coração é o que me move. Quero, cada vez mais, apenas expressar a minha verdade. E acolher a sua, amiga, honrando sua coragem de se vulnerabilizar.

Sim, este verbo existe e é vivo e pulsante. Só não foi dicionarizado ainda.

Com amor e gratidão,

Maris

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