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Escolhas e desafios – reflexões e desabafos sobre o desfralde

Isso é um desabafo e uma reflexão sobre escolhas, desafios e responsabilidades na relação com os filhos – e na vida. Se você quer continuar lendo, venha por sua conta e risco. A escolha é sempre sua. Convido você a vir e refletir comigo. Aceita?

Você está pronta para o desfralde? Sim: você. Porque talvez seu filho já esteja faz tempo, mas você (e/ou seu companheiro) ainda não. Como assim? Assim, ó: talvez você não queira abrir mão da comodidade que é “apenas” trocar fraldas, sem precisar limpar o xixi no chão, lavar diversas calças molhadas (quando não sujas de cocô), esvaziar o peniquinho… Talvez você tenha se acostumado com a troca de fraldas, sobretudo se são descartáveis (não estou julgando: usei muita fralda descartável em meu filho). Talvez a mudança implique em sair da zona de conforto e “perder tempo”, tão precioso em nossa vida de mãe. 

Pois é, percebi isso no processo do desfralde do Gael. Ele, aparentemente, já estava pronto faz tempo. Eu é que não estava. Nem meu marido. E, se pai e mãe não estão prontos, a criança não vai simplesmente decidir por si mesma: ah, não quero nem preciso mais de fralda. A criança aceita a nossa maneira de agir, por mais questionável que possa ser. Porque ela nos ama e quer manter nosso amor. Percebe a responsabilidade, amiga?

Sim, temos uma imensa responsabilidade nas mãos, né: criar seres humanos que povoam este planeta e que irão cuidar dele daqui alguns anos assim como nós cuidamos. Opa? Nós cuidamos? Cuidamos de nossas relações, inclusive com o planeta? Se não cuidamos, é bom começar a cuidar. Porque, né, gente, a terra é o único lugar que temos pra viver e estas pessoas que estão aqui hoje são nossos companheiros nesta curta viagem chamada vida. Então, melhor manter relações saudáveis para que a viagem seja mais agradável – e sustentável.

Então, bora desfraldar! E/ou usar fralda moderna-ecológica-de-pano, sempre e quando isso for realmente contribuir para o bem-estar de todos – inclusive o da mãe.

Não usei. Não me adaptei. EU não me adaptei. Para o Gael era, aparentemente, indiferente. Mas eu já tinha tantas coisas com que me preocupar sendo mãe de primeira viagem, que resolvi diminuir as tensões e não ficar lavando fralda de cocô. Foi o melhor que pude fazer com as condições que tinha naquele momento. Tentei várias vezes usar as de pano. Usava ao menos uma vez ao dia nos dias quentes. Foi o máximo que consegui fazer para diminuir a pegada ecológica.

Tudo são escolhas, conscientes ou não. Quanto mais trouxermos isso à consciência, melhor. Para todos: para você, para a criança e para o planeta. Tudo são escolhas que fazemos. Vamos assumir isso. Ninguém nos obriga a nada. Ninguém. A nada.

Como assim, Maristela? Eu sou obrigada a dar de mamar, senão meu filho passa fome. Não, amiga: você escolhe dar mamar porque acredita que assim estará cuidando da melhor forma possível de seu filho, e a saúde e o bem-estar dele são muito importantes para você. Por isso você amamenta. Ninguém te obriga. Ah, mas o que vão pensar? Não sei, só sei que o juiz interno é o que “obriga”, ninguém mais.

Então, recapitulando: não somos obrigadas a nada. Tudo o que fazemos são escolhas. Se estas escolhas estão servindo a tornar as relações mais plenas e sustentáveis, ótimo: estão à serviço da vida. Se não estão, não estão, então podemos sempre escolher outra coisa. Sempre.

Porque é muito cômodo ficar se iludindo e botar a culpa no outro (é mesmo?). É cômodo e bonitinho dizer que estamos respeitando o tempo da criança. Isso nos impede de olhar para o que realmente precisa ser olhado: NÓS precisamos de tempo para nós! Precisamos respeitar também o nosso tempo. Então, por amor, não nos culpemos, mas nos responsabilizemos. Nós somos guias e exemplos para os filhos.

mãe cansada, bebê chorando, pai irritado., situação típica familiar com criança pequena

De quem é a responsabilidade pelas escolhas que envolvem nossos filhos?

Há um tempo atrás, Gael não tinha ainda dois aninhos, eu estava na pracinha com ele e havia uma menininha um pouco mais velha, comendo balas. Gael olhou, talvez por curiosidade, e logo o pai da menina disse “dá uma pra ele”. Eu recusei, agradecendo e dizendo que ele não comia doces. E o pai da menina, olhando pra ela, num tom repressor: “Viu? Ele não come doces!”

Pelas deusas! Quem foi que comprou as balas pra menina??? Quem foi que ofereceu???Quem foi que ensinou a comer doces???

Gente, precisamos assumir a responsabilidade pela criação de nossos filhos. Não estou julgando quem dá doces pra criança ou quem não dá. O que questiono aqui é esta coisa de jogar a culpa na criança!

Outro exemplo: eu, com Gael pequinininho no colo, passeando numa feira mamãe-bebê, encontro um badulaque que não sei o que é.

Pergunto: Pra que serve?

A moça: Pra pendurar chupeta.

Eu: Ah, tá.

Ela: Quer ver como usa?

Eu: Não, obrigada, ele não usa chupeta.

Ela: NÃO USA CHUPETA??? Nossa!!! Que sorte!!!

Eu: Não é sorte, não. É escolha.

Sério, gente, fico impressionada com a capacidade que temos de nos eximir da responsabilidade por NOSSAS escolhas e culpar o outro.

Pois é. Nem sempre assumimos que tudo o que fazemos com nossos filhos (e com todo o resto na vida) são escolhas. E declinamos toda responsabilidade.

“Filho, eu sei que você já é capaz de ficar sem fralda, mas eu estou muito atarefada neste momento e não quero correr o risco de perder tempo limpando xixi pela casa, esvaziando penico e lavando calça suja de cocô. Por isso, você vai ficar de fralda e só vamos iniciar o desfralde quando eu estiver pronta.”

Isso seria mais honesto do que dizer: acho que ele ainda não está pronto.

A partir do momento que assumi o processo do desfralde, meu filho se sentiu absolutamente seguro para encará-lo.  Um  dia, depois que uma amiga querida me disse: “é que nem parar de fumar, não dá pra parar numa tarde a dar uma tragadinha na manhã seguinte, se quer parar de verdade”, eu resolvi tomar uma atitude. Guardadas as proporções, achei que ela tinha razão: se eu fico colocando fralda na criança quando é conveniente (quando vai sair, por exemplo) a criança acaba se confundindo e não sabe quando dá pra fazer ou não. Depois de conversar com meu companheiro, decidimos que não íamos mais usar fralda – porque NÓS precisávamos ser desfraldados, né? Ou seja: precisávamos assumir a mudança e o crescimento.

Então, começamos a dizer ao Gael todos os dias pela manhã: “hoje você topa ficar o dia todo sem fraldas? e quando quiser fazer xixi ou cocô você avisa e vamos ao troninho”. Claro, ouve alguns escapes nas primeiras tentativas sem fraldas, principalmente se ele estava distraído brincando. Mas depois de alguns dias, começou a pedir todas as vezes e já conquistou autonomia neste quesito. E nós também! Olha a mágica: quando eu assumo a minha responsabilidade, tudo o mais faz o mesmo!

E, sim, ganhei mais tempo com isso. E o planeta está sendo um pouquinho menos poluído desde janeiro.

E aí, como foi ou tem sido o processo de desfralde na sua família? Conta pra mim aqui nos comentários.


Dica de leitura:

O que tem dentro de sua fralda? (Este livro foi bem útil no início do processo de desfralde).



Todos os textos da sessão “Escrito à Mãe” do site cultivandocuidado.com bem como os textos do perfil no Instagram @cultivandocuidado são de autoria de Maristela Lima. Se estas reflexões fazem sentido para você, talvez elas sirvam também para suas amigas mães. Compartilhe com elas o link deste artigo e sempre cite a autoria. Assim, você valoriza o trabalho de uma mãe que escreve e apoia este trabalho, contribuindo para que mais mulheres se beneficiem e me motivando para que eu continue a oferecer às mães conteúdos importantes, gratuitos e de qualidade. Entre mães, precisamos no apoiar.
Com amor e gratidão,
Maris.

This Post Has 2 Comments
  1. Concordo, somos responsaveis por tudo. Porém, passamos por tantas experiencias diferentes, tantas situações que precisamos sobreviver, por isso muito importante não julgar a mãe que faz diferente de nós.

    1. Oi, Camila. Grata pelo seu comentário. Sim, todas passamos por muitos desafios na maternagem e precisamos de apoio e empatia para sobreviver a tantas experiências diferentes, né?
      Como avisei lá no início, este texto é um desabafo, porque justamente já ouvi tanta coisa de adulto se desresponsabilizando e culpando a criança pelas escolhas que ele, adulto faz (inclusive questionando as minhas escolhas, como se fossem absurdas, como no caso da chupeta)… Acho fundamental assumir a responsabilidade pelo que nós fazemos, sabendo que cada um/a faz o que consegue com as condições que tem no momento, né?
      Abraço, com amor e gratidão,
      Maristela

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