Sobre cuidar e ser cuidada…
“Se eu cuido do outro negligenciando a mim mesmo, eu estou cultivando a negligência e não o cuidado”, já dizia Thomas d’Ansembourg (escritor francês e consultor em Comunicação Não-Violenta) no livro “Deixe de ser bonzinho e seja real“. Para estar inteiro com alguém, eu preciso estar inteira comigo. Isso significa que preciso cuidar de mim, investigar o que me faz sentido, ficar comigo para ter clareza do que sinto, perceber minhas reais necessidades e como eu gostaria de atendê-las. Descobrir o que cuida de mim, enfim. E dar passos nesta direção. E, muitas vezes, para isso, preciso de apoio, de rede de apoio (você já leu meu texto sobre este tema?).
A questão é que quando não estamos nutridas naquilo que é importante pra gente – amor, apoio, acolhimento, compreensão, reconhecimento… – dificilmente teremos como nutrir. Se negligenciamos o auto-cuidado, não temos como cuidar verdadeiramente de outro ser, sobretudo de uma criança com todas as demandas desta fase tão especial da vida. E a criança sente e percebe tudo o que se passa com a mãe, sobretudo nos primeiros anos de vida. Então, não adianta “fingir que está tudo bem” e passar por cima de si mesma, das próprias necessidades, na ilusão de cuidar assim da criança. Se uma das duas partes está mal-cuidada, então algo precisa ser revisto, senão a relação vai pagar por isso.
Já percebeu, por exemplo, que quando você está muito cansada, a impaciência surge com mais força? Que quando você gostaria de estar em outro lugar, fazendo outra coisa, ao invés de estar ali com a criança, isso estimula em você mais frustração, talvez até raiva? E que isso se reflete na qualidade de sua presença e de sua conexão com as crias? Comigo é assim. Quando percebo impaciência, irritação, raiva, frustração (tanto em mim quanto em meu filho, já que as atitudes dele são reflexos das minhas), sei que é hora de parar e me perguntar: do que estou precisando? Estou fazendo o que eu quero fazer? Isso está servindo à mim e ao meu filho? Se não serve à vida, não nos serve. Conflitos, internos ou externos, são sinais de que algo precisa ser olhado com mais atenção e pede uma mudança. Não há problema em sentir irritação ou raiva, porque estes sentimentos (como qualquer outro) nos mostram que precisamos nutrir algo que para nós é precioso e que não está recebendo a necessária atenção. A questão é como eu lido com estes sentimentos. E me parece que o melhor a fazer é investigar minhas reais necessidades, para as quais eles – os sentimentos – estão apontando.
Cuidar de si mesma não significa dar conta de tudo sozinha. Ao contrário: significa perceber o que você tem condições de fazer e quais são seus limites. Significa parar quando percebe que precisa parar. Significa pedir aquilo que vai contribuir para que você esteja bem. Significa coragem para assumir que você não é a Mulher-Maravilha, que você não é infalível, indestrutível, invulnerável. Significa expressar e acolher sua vulnerabilidade. Significa assumir-se humana, enfim. E, a partir deste lugar, conseguir enxergar a humanidade das pessoas ao seu redor – inclusive daquele ser humaninho que chamamos de “filho”.
E aí? Já cuidou de si mesma hoje? O que você precisa para se nutrir e para bem nutrir suas crias? Que tal refletir sobre como co-criar as condições para que todos aí em sua família estejam bem-cuidados – inclusive e antes de tudo, você?
Depois me conta aqui como tem sido para você este cuidar e cuidar-se.
Abraços e até a próxima.
Com amor e gratidão,
Maristela
Todos os textos da sessão “Escrito à Mãe” do site cultivandocuidado.com bem como os textos do perfil no Instagram @cultivandocuidado são de autoria de Maristela Lima. Se estas reflexões fazem sentido para você, talvez elas sirvam também para suas amigas mães. Compartilhe com elas o link deste artigo e sempre cite a autoria. Assim, você valoriza o trabalho de uma mãe que escreve e apoia este trabalho, contribuindo para que mais mulheres se beneficiem e me motivando para que eu continue a oferecer às mães conteúdos importantes, gratuitos e de qualidade. Entre mães, precisamos no apoiar.
Com amor e gratidão,
Maris.
DICAS DE LEITURA (clique nos títulos para saber mais) :
Deixe de ser bonzinho e seja verdadeiro, de Thomas d’Ansembourg
Comunicação Não-Violenta, de Marshall Rosenberg
Autocompaixão, de Kristin Neff
Não seja bonzinho, seja real, de Kelly Bryson
A coragem de ser imperfeito, de Brené Brown
A maternidade e o encontro com a própria sombra, de Laura Gutman
Mulheres visíveis, mães invisíveis, de Laura Gutman
O Poder da Empatia, de Roman Krznaric
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