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Yoga, CNV e maternidade

Primeiro veio o Yoga, quando eu ainda era adolescente. Depois dos 30, descobri a Comunicação Não-Violenta. E, com quase 40, me tornei mãe. Os caminhos foram convergindo e me preparando para o que sou hoje e para isso que assumi como meu propósito atualmente: cuidar do tecido das relações humanas, a começar pela base – a relação mãe-filho. Isso significa exercer meu próprio papel de mãe de forma consciente e amorosa e apoiar outras mães a assumirem a importância de seu papel na co-construção de uma nova sociedade, mais humana, mais empática, mais consciente e sustentável. Faço isso por meio da educação emocional e relacional, visando o fortalecimento do vínculo mãe-filhos, o autocuidado nesta relação, a harmonização das relações familiares, e  o empoderamento materno. Na base de tudo isso, está o conceito de AHIMSA.

Você sabe o que á “Ahimsa”?

Ahimsa é o primeiro dos Yamas, ou preceitos morais e éticos do Yoga, relativos ao nosso comportamento com o mundo. É uma palavra de origem sânscrita e foi traduzida como “não-violência”. Ahimsa está presente em diversas religiões antigas, como no Jainismo, Hinduísmo e Budismo. Segundo o autor Taimni, no livro “A Ciência do Yoga”,

“Ahimsa é uma qualidade dinâmica e positiva de amor universal, não uma simples atitude passiva de inofensividade. Esta qualidade denota uma atitude e um tipo de comportamento em relação a todas as criaturas vivas, com base no reconhecimento da subjacente unidade da vida. Quem deseja se aperfeiçoar na prática de ahimsa mantém rigorosa vigilância sobre sua mente, suas emoções, suas palavras e seus atos. Pouco a pouco, à medida que ele consegue por em prática seus ideais, as crueldades e injustiças contidas em seus pensamentos, palavras e atos vão se revelando, sua visão torna-se clara e, assim, sob quaisquer circunstâncias, o modo de se conduzir corretamente será conhecido por intuição. De forma gradual, este ideal de inofensividade, aparentemente passivo, se transformará em uma positiva e dinâmica vida de amor, em seu aspecto mais terno, em relação a todos os seres vivos e, em sua forma prática, o servir.” 

A maneira mais efetiva que encontrei de praticar ahimsa em minha vida foi com a descoberta da Comunicação Não-Violenta. Esta abordagem nasceu na década de 1960, idealizada por Marshall Rosenberg, resultado de seus estudos sobre religião comparada, psicologia social e por suas próprias práticas e observações. Hoje, vem sendo usada ao redor do mundo todo como uma importante ferramenta para olhar os conflitos e cuidar das relações de uma forma restaurativa. Seja em relações entre casais, pais e mães com seus filhos, ou entre nações, através da Comunicação Não-Violenta são consideradas as necessidades de todas as pessoas envolvidas, prevalecendo uma cultura pautada na parceria e na cooperação, que busca servir à vida em todas as suas formas.

Esta abordagem, quando vista superficialmente, pode parecer apenas um conjunto de técnicas para melhorar seu relacionamento consigo mesmo e com os outros. Mas, quando realmente nos permitimos ser transformados pela força contida na não-violência, vemos que isso é a própria espiritualidade na prática, tornada factível no dia-a-dia, em nossas relações nos diversos níveis – intrapessoal, interpessoal e sistêmico. Com o apoio desta abordagem, nos expressamos honestamente e ouvimos empaticamente, criando espaço para o diálogo e a possibilidade de olhar para aquilo que nos une, tirando o foco do que nos separa.

Como é muito mais do que uma simples técnica, esta forma de comunicar só fará sentido se for acompanhada de uma disposição interna coerente com o que se está dizendo, baseada na intenção de realmente se conectar a outro ser humano, com atenção plena no momento presente. Cada situação, assim como cada relação, é única. Então, para além de um “como fazer”, o mais importante é nossa intenção de focar naquilo que nos une e ouvir um ao outro buscando o sentido, a humanidade de quem está se expressando. Ouvir com o coração. E expressar-se a partir daí.

Assim, a Comunicação Não-Violenta é uma maneira de nos colocarmos no mundo realçando aquilo que nos une, as nossas semelhanças, a nossa humanidade compartilhada, aprimorando nossa capacidade de valorizar as nossas diferenças e de nos conectarmos com aquilo que temos em comum – nossas necessidades mais fundamentais, como amor, justiça, dignidade, autenticidade, liberdade, segurança, paz, saúde, etc. Ela nos apoia a desenvolver a competência relacional necessária para acolher as emoções e lidar com os conflitos internos e externos de forma mais sustentável, considerando aquilo que é importante para todas as pessoas envolvidas, mesmo nas situações mais adversas, buscando cocriar as condições para que as necessidades de todos sejam contempladas.

mãe filho contemplação yoga equilíbrio emocional

O equilíbrio emocional vem de um firme propósito de servir à vida, cuidando do tecido das relações humanas.

À medida que conseguimos integrar em nossas palavras e em nossas ações os conceitos-atitudes propostos pela Comunicação Não-Violenta, diminuimos a reatividade e a impulsividade que muitas vezes resultam em atos prejudiciais à vida. Assim, ahimsa deixa de ser uma utopia para tornar-se algo concreto em nosso dia-a-dia, transformando nossas relações e reverberando “a qualidade dinâmica e positiva de amor universal”. Criamos, assim, um campo onde nenhuma forma de violência é aceitável e buscamos estar realmente a serviço da vida.

E a maternidade é um terreno fértil para esta prática, tanto pelos desafios que ela nos apresenta a todo momento, quanto pelos frutos que dela podem resultar, quando nos dispomos a olhar para a relação com nossos filhos a partir do firme propósito em ahimsa.

Vamos juntas. A humanidade precisa urgentemente disso.

Com amor,

Maris.

 

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Todos os textos da sessão “Escrito à Mãe” do site cultivandocuidado.com bem como os textos do perfil no Instagram @cultivandocuidado são de autoria de Maristela Lima. Se estas reflexões fazem sentido para você, talvez elas sirvam também para suas amigas mães. Compartilhe com elas o link deste artigo e sempre cite a autoria. Assim, você valoriza e apoia o trabalho de uma mãe que escreve, contribuindo para que mais mulheres se beneficiem e me motivando para que eu continue a oferecer às mães conteúdos importantes, gratuitos e de qualidade.

Entre mães, precisamos no apoiar.
Com amor e gratidão,
Maris.

 

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