Gestar, parir e maternar: viva sua potência feminina!
Se você ainda não sabe, eu estou novamente gestante. E estou gestando uma nova mulher, uma nova mãe, além do novo ser humaninho ou humaninha que está por vir. E esta nova mulher está crescendo tanto em mim que transborda em desejo de compartilhar insights e aprendizados que tenho vivenciado desde que engravidei novamente. Então, convida suas amigas grávidas e também as que já são mães e venham ler este texto, com a mente, o coração e o corpo abertos. Como assim, “o corpo”, Maris? Continue lendo e entenda porquê.
Convido você a vir junto comigo neste processo de empoderamento feminino-materno. Porque agora que estou gestando novamente, integrei realmente a noção de que o empoderamento materno precisa começar muito antes de parir. E empoderamento feminino verdadeiro passa pela sororidade: a empatia e união entre as mulheres. Tudo isso faz parte de um mesmo processo de amadurecimento do feminino e do feminismo. Vamos lá. Vamos juntas.
Sabe, quando estava gestando Gael, me preparei de todas as formas que eu acreditava ser o melhor para mim e para o bebê.
Não, não me preocupava tanto com enxoval, quartinho e estas coisas que o mercado das gestantes tenta fazer você acreditar que são essenciais para vir a ser uma boa mãe – infantilizando a mulher e romantizando a maternidade. Ao invés disso, economizei dinheiro para meu tão desejado parto em casa.
Li diversos livros sobre gestação e parto, fiz yoga, hidroginástica e caminhadas diárias, só comia comida saudável, participei de grupos de apoio, ouvi inúmeros relatos de parto, fui em muitos encontros de gestantes, pesquisei sobre profissionais da área em minha cidade, fiz meditações, constelações, orações. Enfim: mergulhei no universo das grávidas.
Como disse, escolhi, depois de muita pesquisa e preparação, parir em casa. Me sentia suficientemente empoderada para isso: tinha muita informação baseada em evidências, tinha uma boa equipe de parto domiciliar planejado, tinha amigas por perto, tinha o apoio do meu companheiro, tinha plano B, C, D e o acordo de só ir para a maternidade em caso de risco de vida.
Mergulhei, como eu disse. Mas foi um mergulho de cabeça – ou seja: mental. Minha cabeça dominava meu corpo, sem que eu nem percebesse…
E isso, naturalmente, se refletiu no parto, que durou dias. Sim, dias! Dias de ansiedade, medo, coragem, dor, risos, gritos, insônia, amigas, frutas, sorvetes, tudo junto e misturado em minha memória já diluída no universo da partolândia em que me encontrava. Mas minha mente lutava contra meu corpo e este não se abria. Quatro dias de contrações e nenhuma dilatação… Finalmente, Gael veio do ventre ao colo e a ocitocina, felizmente, me inundou e foi só amor e gratidão. Mas o processo de parto foi, digamos, inesquecível.
Grávidas amadas, não se iludam: o parto é reflexo da vida – da sua história de vida e de sua vida cotidiana.
Agora, gestando este novo ser, tenho tido diversas oportunidades de ressignificar o parto do Gael e realmente me preparar para um outro parto, agora num outro nível: não apenas de cabeça, mas com o corpo todo.
Sim: o corpo todo. Conceber, gestar e parir são maravilhas que acontecem no nosso corpo! Então, é preciso calar as vozes do patriarcado que insistem em dominar nossa mente e trazer para o corpo a consciência da potência que há em nós.
Esta consciência começou a reacender em mim quando participei de um retiro de 10 dias entre mulheres, mães, gestantes, doulas, enfermeiras obstetras e parteiras. Dez dias em meio à natureza, para realmente mergulhar e me reconectar com a minha natureza feminina e materna: “A arte de acompanhar o nascimento”, com a antropóloga e parteira mexicana Naoli Vinaver, foi um mergulho em minha alma de mulher, de mãos dadas a outras mulheres, numa cocriação poderosa da irmandade feminina. Ali, tive a oportunidade de vivenciar muitas curas, transmutar muitas dores, entender o processo de parto do Gael e ressignificá-lo em minha história de vida.
Foi o que eu considero o verdadeiro início de minha maturidade feminina. Não por acaso, minha entrada no meu sétimo setênio se deu bem no meio desta imersão: fiz 42 anos, intensamente grávida e borbulhando de tantas transformações em tão poucos dias.
Claro, meu processo de autoconhecimento vem já desde muitos anos. Mas sabe quando você sente que chegou à maturidade? Eu sinto assim. Mas, certamente, para cada uma é diferente.
Sempre digo que estar entre mulheres me fortalece e me re-humaniza. Naqueles dias, por mais que houvesse momentos desafiadores – seja pelos desafios da convivência, seja pelas águas profundas que estavam sendo reviradas no fundo do meu ser, ativando processos não tão confortáveis, mas absolutamente necessários de serem vividos – e talvez por isso mesmo, integrei o significado de sororidade.
Enfim, depois de voltar pra casa e passar dias digerindo tudo o que vivi e transmutei, comecei a querer mais disso que percebo como vida pulsando em mim. Isso que só o encontro consigo mesma e a irmandade com outras mulheres pode propiciar. Isso que compreendi ser o nosso real sagrado feminino-feminismo.
E continuei mergulhando mais fundo nas minhas águas mais remotas.
E aí, como quando a gente se apaixona por projetar no outro todas as qualidades ideais que na verdade já temos potencialmente em nós mesmas, quis mergulhar novamente com a Naoli. E fui para mais um retiro, mais curto, de apenas 3 dias, mas ainda mais intenso do que o primeiro. Porque eu já não era a mesma e porque as águas já estavam fervendo em mim, transmutando tudo mais rapidamente do que antes. Assim, participei da imersão em “Parto Tântrico” e, uau!, se eu tinha ainda alguma dúvida de que sempre podemos ir além de nossos limites e limitações, ali isso ficou claro como a água límpida da fonte mais pura escondida no meio da mata.
E adentrei minhas matas escuras e fechadas para redescobrir meu prazer e me libertar do sofrimento que me impediu de gozar durante muitos anos, que me impediu de me abrir para o Gael passar logo, que me impediu de viver minha sexualidade como a plenitude que mereço. Que todas merecemos.
Agora entendo que não, eu não estava preparada para o parto do Gael. Eu quis muito e consegui parir. Mas o sofrimento foi imenso. Porque eu ainda tinha em mim todo o peso judaico-cristão-patriarcal-machista dominando minha mente e querendo sufocar meu corpo e impedir a expansão de minha potência!
Agora esta é minha forma de me preparar ao parto: criando as condições para realmente me empoderar do meu corpo, da minha sexualidade, da vida pulsante em meu ventre – que um bebê torna tão evidente mas que sempre existe ali potencialmente como energia vital criativa.
Isso tem sido meu “pré-natal emocional-espiritual-corporal-sexual”. Isso tem sido minha preparação para o parto. As descobertas têm sido incríveis, muitas vezes emocionalmente doloridas, outras vezes prazerosas, mas sempre transformadoras.
Faço isso por mim, por este novo bebê que chega e por todas nós. Pois creio, sim, que cada mulher que se cuida e se cura faz aumentar a massa crítica feminina que trará a revolução matriarcal necessária ao bem do planeta e da espécie humana!
Porque parir é um ato muito potente de resistência. E redescobrir isso tem sido altamente empoderador. E isso faz ainda mais sentido quando posso compartilhar com você, que me lê e se deixa sensibilizar (ou seja: voltar a sentir) pelas minhas palavras.
Todos os textos da sessão “Escrito à Mãe” do site cultivandocuidado.com bem como os textos do perfil no Instagram @cultivandocuidado são de autoria de Maristela Lima. Se estas reflexões fazem sentido para você, talvez elas sirvam também para suas amigas mães. Compartilhe com elas o link deste artigo e sempre cite a autoria. Assim, você valoriza e apoia o trabalho de uma mãe que escreve, contribuindo para que mais mulheres se beneficiem e me motivando para que eu continue a oferecer às mães conteúdos importantes, gratuitos e de qualidade.
Entre mães, precisamos no apoiar.
Com amor e gratidão,
Maris.