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Somos imperfeitas. E não estamos sós!

Muitas mulheres sofrem e se culpam por serem menos que perfeitas como mães. É compreensível: vivemos em uma sociedade em que a culpa e a vergonha são instrumentos de coerção e de dominação. Aprendemos desde cedo a nos comparar, a julgar, a criticar, a achar culpados e bodes expiatórios, a dividir o mundo entre gente do bem e inimigos, entre meninas boas e meninas más, mulher pra casar e mulher da vida, boas mães e mães ruins… E assim, somos incitadas a nos policiarmos umas às outras. E assim nos afastamos umas das outras e nos condenamos ainda mais à separação e à solidão. E nos corroemos em autojulgamentos em meio à solidão materna. 

Antes de ser mãe, você é humana. Lembre-se disso TODOS OS DIAS. E, como todo ser humano, temos uma característica comum: somos imperfeitas! (Sim, isso também é um rótulo, que pode servir para autocomiseração e mais julgamentos OU – e é o que desejo aqui usando esta palavra – apenas como lembrança de que estamos todas fazendo o melhor que podemos com as condições que temos a cada momento).

É preciso aceitar o fato de que pertencemos a esta espécie humana “imperfeita” e acolher os aprendizados que decorrem do que comumente chamamos de “erros” (e que podemos enxergar como oportunidades de crescimento e mudança saudável). Com menos culpa e mais compaixão por nós mesmas. E pelos filhos que temos.

Prema Chödrön, monja budista tibetana, diz o seguinte: “Compaixão é uma relação entre iguais. Somente quando conhecemos bem a nossa escuridão podemos nos mostrar presentes na escuridão do outro. A compaixão se torna real quando reconhecemos a humanidade que compartilhamos.”

E este é o ponto: reconhecer a humanidade que compartilhamos. A partir daí pode nascer mais empatia, mais verdade e mais conexão em nossas relações. Não apenas com nossos filhos e filhas, mas também com a comunidade da qual fazemos parte, com nossos companheiros e companheiras, com outras mães – e, sobretudo, com a gente mesma. Porque, se a gente não aprende a empatizar com a gente mesma, como pretendemos que nossos filhos se tornem indivíduos empáticos, autênticos, colaborativos e sentindo-se dignos de amor e aceitação?

“Se quisermos que nossos filhos amem e se aceitem como são, nossa tarefa é amar e nos aceitar como nós somos. Não podemos nos entregar ao medo, à vergonha, à culpa e ao julgamento em nossa própria vida se quisermos criar filhos corajosos. Compaixão e vínculo – as virtudes que dão sentido e significado à vida – só podem ser aprendidos se forem experimentados”, diz Brené Brown no livro A coragem de ser imperfeitoE continua: “Enterrada em algum lugar profundo de nossas esperanças e nossos receios a respeito da maternidade e da paternidade, está a verdade assustadora de que não existe perfeição na criação dos filhos, nem garantias. (…) As discussões exarcerbadas sobre educação nos abstraem convenientemente desta verdade importante e dura: quem somos e a maneira como nos relacionamos com o mundo são indicadores muito mais seguros de como nossos filhos serão do que tudo o que sabemos sobre criar filhos“.

Então, amigas, olhar para si mesma e para sua maternagem de forma compassiva, com acolhimento e empatia, é o que fará a diferença na forma como você irá se relacionar com seus filhos – e com as outras mães (e com todas as pessoas que emitem opiniões sobre o que você faz ou deixa de fazer com seus filhos, diga-se de passagem). E sei que é muito mais desafiador conseguir este auto-olhar compassivo e empático quando se está sozinha nesta busca. Por isso insisto na importância da rede de apoio. Por isso busco criar as condições para estar com outras pessoas nesta busca. Por isso crio oportunidades para que as mães se encontrem e se enxerguem em sua humanidade compartilhada.

rede de apoio materno

Como está sua rede de apoio?

Por isso criei o projeto Cultivando o Cuidado – apoio, empatia e empoderamento materno, um espaço seguro de trocas entre mulheres, para ouvir e ser ouvida, para nos fortalecermos em nosso propósito e persistirmos em nossa caminhada rumo a uma maternagem mais consciente e transformadora. Este trabalho é inspirado na Comunicação Não-Violenta, que investigo há mais de sete anos. Desde então, li muitos livros sobre o assunto, além de participar de inúmeras experiências, vivências e cursos, no Brasil e no exterior. Dentre os livros que li, estava um pequenininho do Marshall Rosenberg – criador da Comunicação Não-Violenta – sobre a relação com os filhos. Li em francês há vários anos e esses dias, ele saltou da estante. Ao reler, percebi o quanto os ensinamentos do Marshall reverberam no meu ser, no meu fazer e no meu agir hoje, como mãe e como facilitadora destes processos de empoderamento materno.

Por isso, me faz muito sentido compartilhar um trechinho com vocês, que traduzi:

“Eu proponho uma maneira de exercer a função de pai e mãe que difere singularmente do modo que a maioria dos pais costuma exercer seu papel. Será difícil vislumbrar soluções radicalmente diferentes num mundo onde a punição é tão presente e onde os pais que não punem e que não exercem nenhuma outra forma de coerção são, com frequência, mal compreendidos. O pertencimento à uma comunidade que os apoia – pois que compreende os conceitos dos quais falamos aqui (da Comunicação Não-Violenta) – é realmente uma grande ajuda aos pais e mães e lhes dá força de persistir nesta via num mundo em que, frequentemente, não adere a isso.

Eu sempre conseguia me manter firme neste caminho quando eu mesmo recebia, da parte de um grupo que me apoiava, muita empatia pelas dificuldades apresentadas pela função de pai e mãe. É tão fácil cair nos esquemas habituais! Quando contava a eles sobre minhas dificuldades de comunicar com meus filhos, era muito precioso, para mim, me dar conta que outros pais e mães viviam o mesmo e que nós podíamos falar disso e partilhar nossas frustrações recíprocas. Constatei que quanto mais me integrava num grupo assim, melhor me saía na relação com meus filhos, mesmo nas situações difíceis. (…)

Digo frequentemente aos pais e mães com quem eu trabalho que é um verdadeiro inferno ter filhos e acreditar que existem pais e mães perfeitos. Se, a cada vez que nós somos menos que perfeitos, nós nos repreendemos, não estaremos fazendo nenhum bem a nossas crianças. Proponho, então, não tentarmos ser pais e mães perfeitos, mas (…)  tirar as lições necessárias de cada ocasião em que não conseguimos dar aos nossos filhos a compreensão que eles precisam, em que não conseguimos nos expressar com honestidade. Pela minha experiência, estas dificuldades vem habitualmente do fato de que pais e mães não recebem o apoio emocional que eles precisam para preencher as necessidades de seus filhos. Nós só podemos realmente nos doar com amor na medida em que nós mesmos recebemos amor e compreensão. É por isso que eu sugiro fortemente a vocês refletir sobre como poderiam criar um grupo de apoio que trará a vocês a compreensão que vocês precisam para oferecer aos seus filhos uma presença enriquecedora, tanto para eles como para vocês.” (Marshall Rosenberg)

Então, mulheres, juntas nós vamos não apenas mais longe. Juntas temos mais persistência em nosso caminho rumo a relações mais conscientes e sustentáveis. Juntas nos damos conta que somos todas humanas e estamos aqui aprendendo a ser mães, não perfeitas, mas possíveis.

Vamos juntas!


Dica de leitura:

A coragem de ser imperfeito, de Brené Brown

Éléver nos enfants avec bienveillance, de Marshall Rosenberg



Todos os textos da sessão “Escrito à Mãe” do site cultivandocuidado.com bem como os textos do perfil no Instagram @cultivandocuidado são de autoria de Maristela Lima. Se estas reflexões fazem sentido para você, talvez elas sirvam também para suas amigas mães. Compartilhe com elas o link deste artigo e sempre cite a autoria. Assim, você valoriza e apoia o trabalho de uma mãe que escreve, contribuindo para que mais mulheres se beneficiem e me motivando para que eu continue a oferecer às mães conteúdos importantes, gratuitos e de qualidade. Entre mães, precisamos no apoiar.
Com amor e gratidão,
Maris.

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