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Presença e conexão com os filhos

Como você nutre e fortalece a relação com seus filhos? O que você percebe que alimenta a conexão profunda e verdadeira entre vocês? O que é conexão, para você?

Uma amiga me pediu para falar e escrever sobre conexão com os filhos. Só posso contar sobre como eu busco me conectar com o meu filho – pois não conheço você que está lendo, não sei sua história, suas experiências, suas buscas. Só posso escrever a partir do meu ponto de vista, por mais que eu consiga fazer um exercício de imaginação empática e me colocar em seu lugar. Não seria honesto contigo dizer o que te serve. Só posso falar da minha própria experiência, do que percebo que serve nas minhas relações. Se isso te inspira, te convido a investigar em ti mesma o que serve na relação com tua criança. Nesta maternagem que quero viva, pulsante, ativa, consciente e transformadora, não há regras pré-definidas nem modelos a serem seguidos: há apenas a relação que se constrói a cada instante, pautadas por princípios que apoiam a vida. A cada instante: no momento presente. É só nesse aqui-agora que pode haver conexão profunda entre um “tu” e um “eu” que se transformam em nós. Só neste instante presente pode haver a transformação que desejo em minha relação com meu filho. Só neste instante de presença é que me conecto com o seu ser e com meu ser, e então, apenas somos. E nos tornamos pessoas – “eu” e “tu”, humanos. Para além de rótulos que nunca nos definirão completamente, para além do verniz social, para além do bem e do mal.

“O presente, não no sentido de instante pontual que não designa senão o término – constituído em pensamento, tempo ‘expirado’ ou aparência de uma parada nesta evolução – mas o instante atual e plenamente presente, dá-se somente quando existe presença, encontro, relação. Somente na medida em que o Tu se torna presente a presença se instaura. (…) Na medida em que o homem se satisfaz com as coisas que experiencia e utiliza, ele vive no passado e seu instante é privado de presença. Ele só tem diante de si objetos, e estes são fatos do passado. Presença não é algo fugaz e passageiro, mas o que aguarda e permanece diante de nós. Objeto não é duração, mas estagnação, parada, interrupção, enrijecimento, desvinculação, ausência de relação, ausência de presença. O essencial é vivido na presença, as objetividades no passado.”, diz Martin Buber, em “Eu e Tu“.

É só neste instante presente que pode haver o verdadeiro encontro. É só no estado de presença que podemos nos perceber como “nós” e então a conexão acontece. Se nos objetificamos, se mantemos apenas uma relação funcional (do tipo “já escovou os dentes? vá tomar banho! hora de dormir.”), se nos relacionamos apenas através de rótulos – e isso inclui “mãe”, “filho”, “criança”, “adulto” – e tudo o que imaginamos que estes rótulos implicam, todos os “tem que”, todas as supostas obrigações que eles carregam… Se é a partir daí que tentamos nos relacionar, então não acontece a magia da conexão.

O presente mais precioso que posso oferecer ao outro é minha presença. (Tich Nath Ham)

Neste momento do ano, escuto e leio muitas variações da frase “o melhor presente é a presença”. Concordo. Para além do lugar comum: por experiência própria.

Presentes são objetos que tentam, às vezes desastradamente, substituir a presença. Não por acaso tantos pais e mães cheios de culpa por passarem pouco tempo com os filhos os enchem de presentes. Objetos: fatos do passado, desvinculados da verdadeira relação. Presentes: estagnação de um desejo de conexão. Não to dizendo que presentes não são uma coisa bacana. Eu gosto de ganhar presentes. Vejo que meu filho também. Mas um presente é tão infinitamente menos significativo para ele do que meia hora de atenção plena que eu lhe dou! Um presente é tão menos significativo para mim do que um momento olho-no-olho com meu companheiro, enxergando para além das armadilhas do cotidiano…

Conexão se faz com presença. Ao estar presente, enxergo meu filho. Então ele existe para mim. Ao me permitir estar inteiramente ali, sustentando o encontro com a criança – que muitas vezes me leva ao encontro com a minha própria criança interior – quando apenas sou eu ali, sem papéis a me definir, quando apenas estou ali, sem julgamentos pelo que vejo, sem trazer situações passadas, apenas observando este “nós” que se mostra, ah, é incrível o que pode acontecer!

Numa dessas manhã, estava eu com meu filho, durante um tempo que não sei mensurar, só eu e ele, sem celular por perto, sem música além dos possíveis passarinhos urbanos ao longe, sem nenhuma distração além de seus olhinhos curiosos a me perscrutar. Não vi o tempo passar. Estávamos ambos felizes em simplesmente estar ali um para o outro, envolvidos na brincadeira de existir. Aí, senti fome e me dei conta que era quase “hora do almoço”.

Ele, percebendo o movimento: – Vamos brincar  lá no quartinho?

Eu: Hum, agora eu quero fazer almoço lá na cozinha e você quer brincar no seu quartinho. Como fazemos?

Ele: Mamãe vai fazer almoço, Gael vai pro quartinho brincar.

Simples assim. Sem choros, sem insistência. Ele estava tão nutrido de presença e conexão que muito naturalmente entendeu e acolheu a nova situação que se apresentava. Quando experimentamos esta sinergia entre nós, o que percebo é uma criança mais autônoma, mais segura e independente. Por outro lado, quando não temos este “tempo de qualidade” juntos, torna-se quase impossível fazer qualquer outra coisa sem que ele demande atenção o tempo todo. Óbvio, né? Se a criança está “desnutrida” de atenção, vai pedir atenção! Por que? Porque a criança, felizmente, ainda está conectada com suas verdadeiras necessidades e tenta, com os recursos que tem, satisfazê-las – e aí chamam isso de birra, manha, frescura… e a criança vai se afastando daquilo que está vivo nela…

Conexão entre a mãe girafa e a cria.

Conexão com as crias: presença e empatia são ingredientes essenciais.

Eu quero preservar esta conexão que meu filho tem consigo mesmo. E quero nutrir nossa conexão. Por isso, pratico e tento cultivar a presença o melhor que consigo com as condições que tenho a cada momento. Porque já experimentei os resultados, e sei que tudo flui na relação quando cultivo este estado.

Presença, conexão, empatia: tudo está interligado. “Empatia, eu diria, é presença. Pura presença em relação ao que está vivo na pessoa neste momento, não trazendo nada do passado. Quanto mais você conhece uma pessoa, mais difícil é a empatia. Quanto mais você estudou psicologia, mais difícil é a empatia. Porque você não pode trazer nenhum pensamento do passado. (…) Estar presente e em conexão com a energia que passa através de você no presente não é uma compreensão mental”, diz Marshall Rosenberg.

É através do coração, sabe? Não tenho como explicar melhor do que isso. Só sentir.

Experimenta ficar 15 minutos só observando seu filho. Sinta o que acontece, em você, nele, entre vocês. Depois me conta aqui. Vou  gostar de ler suas experiências.

Com amor e gratidão,

Maristela

Todos os textos da sessão “Escrito à Mãe” do site cultivandocuidado.com bem como os textos do perfil no Instagram @cultivandocuidado são de autoria de Maristela Lima. Se estas reflexões fazem sentido para você, talvez elas sirvam também para suas amigas mães. Compartilhe com elas o link deste artigo e sempre cite a autoria. Assim, você valoriza o trabalho de uma mãe que escreve e apoia este trabalho, contribuindo para que mais mulheres se beneficiem e me motivando para que eu continue a oferecer às mães conteúdos importantes, gratuitos e de qualidade.

Entre mães, precisamos no apoiar.
Com amor e gratidão,
Maris.

This Post Has 10 Comments
  1. Uau! Um presente este texto! Assim como cada relação única entre mãe-filho. Nutro e fortaleço a relação com minhas filhas a medida que nutro a mim mesma, conforme cada encontro se/me revele. Despir-me dos “rótulos” e expectativas é, sem dúvida, premissa básica para verdadeiramente ser, aqui e agora, a mãe possível que sou, a melhor que posso ser! (Nossa, e como me é caro ceder o lugar da ‘boa’-mãe ou constatar q não sou assim tão indispensável e insubstituível!!!) Dias desses, estavam as duas disputando a tapas uma maria-chica de glitter quando escuto a mais velha choramingar: “Manhê, a Lola me mordeu”. Eu, no limite já restrito de minha habilidade empática, soltei um: “Não quero saber de fofoca!”, e me retirei. Um chega pra lá da maior na caçula depois, estavam as duas harmonicamente brincando juntas de salão de beleza! Por vezes, é nessa entrega sem protocolos que sinto sentimento, emoção, pensamento e ação alinhados! E ganho força e disponibilidade, para novas conexões!

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